quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

[8] Nós que aqui estamos por vós esperamos - França

O turista que se move para ver, ouvir e abrir-se para todas as influências dos lugares em que se condensam séculos de grandeza humana é simplesmente um homem em busca de excelência
Max Lerner


É muito difícil definir qualquer cidade estando há poucos dias nela, ás vezes menos. Nesses dias podem haver tantas variáveis: período de férias ou não, final de semana ou não, uma festa, uma turma, o local de hospedagem, o humor, o tempo. Então pode-se falar de impressões, que podem ser realmente o que a cidade representa, parte disso, ou, até, uma impressão totalmente fora da realidade. Mas, se a escola de pintura impressionista foi fundada na própria França e tinha como tendência geral a transmissão das impressões fugazes e a mobilidade dos fenômenos, mais do que o aspecto estável e conceitual das coisas, nenhum lugar melhor para se ter esse tema levantado. Que de agora em diante, então, vocês possam ter em mente que sempre falo de impressões; impressões minhas.

Talvez nenhuma outra cidade aguce tanto os sentidos como Paris.
Olfato. Independentemente por onde se caminha, a atmosfera é sempre perfumada. O cheiro exala dos famosos perfumes franceses ou das comidas cuidadosamente preparadas.
Paladar. Comidas estas que não podem ser ignoradas. Apesar dos altos preços, o prazer de se degustar um bom vinho da região de Bordeaux, acompanhado de uma refeição autenticamente francesa, só mesmo esse pobre e demasiadamente sensato mochileiro que vos escreve poderia resistir. Que tentação !
Audição e visão. Tentação ainda maior se próximo a mesa, como é comum, houver uma boa música ao vivo e se a própria mesa estiver em um local com vista para fora, de modo que se possa assistir ao desfile das pessoas comuns que não deixam absolutamente transparecer pela roupa a classe social a que pertencem, um show de elegância, especialmente visto na avenida Champs-Elysées.

Desde há muito que sonhava em vir para a Europa, e sempre vinha a minha cabeça França, Paris, Torre Eifel. Não sei explicar o motivo, mas creio que todos devem ter em mente algo parecido. Tracei um roteiro bem ambicioso para 3 dias em uma cidade tão repleta e no primeiro já incluía a subida àquele monumento construído em 1889 pela ocasião dos 100 anos de Revolução Francesa e que deveria ser desmontado em seguida, o que causou muita polêmica na época. O que me reservaria a torre depois de ter passado pela Catedral de Notre Dame, Museu do Louvre, Avenida Des Champs Elysées, Rio Sena e Arco do Triunfo ? Pois bem, bonita ? Não se pode dizer que é a mais linda torre do mundo. Uma perfeição em engenharia ? Também não creio. Então, o quê ? Glamourosa. É a torre Eifel que escuto desde criança, a que vem à cabeça quando se fala de França, a que aparece nos filmes, a que se pode ver uma pontinha de diferentes partes da cidade; a que de dia, ou de noite com suas luzes, se impõe. A que te diz: você está na França. E o melhor foi subir no alto de seus poucos mais de 300 metros e ver o anoitecer da Cidade Luz.

Ao mesmo tempo em que preservam a memória e valorizam o patrimônio histórico, penso que os franceses também não se descuidam do turismo. Próximo à praça de La Concorde, onde um dia havia a guilhotina que decapitou mais de 1300 pessoas, como Danton e Robespierre, há um obelisco funcionando como marco histórico. O Arco do Triunfo, simbolizando as vitórias de Napoleão, foi construído, em 1830, exatamente alinhado com o o obelisco, na outra extremidade da Avenida Champs Elysées. Agora, numa área com prédios moderníssimos na cidade, (que certamente não o serão mais em algumas centenas de anos), abrigando o maior conjunto de escritórios da Europa, foi construída uma versão contemporânea do Arco do Triunfo, o Arco de La Defense, comemorando os 200 anos da Revolução Francesa. Detalhe: este também é perfeitamente alinhado ao velho Arco do Triunfo e ao Obelisco, constituindo assim um roteiro perfeito para os ávidos turistas, de hoje ou de amanhã...

Vocês podem estranhar, mas no último dia fiz um passeio nada convencional, fui ao Cemitério Du Pere Lachaise. Acho que é sempre bom lembrar que assim como Balzac, Chopin, Prost, Delacroix, Oscar Wilde e Jim Morrinson, entre outros famosos que estão enterrados neste cemitério, teremos o mesmo fim. A propósito, o título deste texto é homônimo de um excelente filme brasileiro filmado inteiramente em preto-e-branco mas que termina com uma cena colorida no cemitério. A câmera vai se afastando e então se pode ler na entrada do cemitério:
"Nós que aqui estamos por vós esperamos".

P.S.
Há vários imigrantes brasileiros na Europa. Aparentemente a maior concentração está em Portugal, onde conversei com muitos, e na Inglaterra. Não estive no país da Rainha Elisabeth mas encontrei vários brasileiros que estavam viajando, depois de trabalhar naquele país por um período; a maioria voltaria para lá, outros para o Brasil.

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