quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

[5] Da religião na Galícia ao terrorismo no País Basco - Espanha


Aquele que quer viajar rápido deve viajar desprovido de bagagens.
Antoine de Saint-Exupéry

A cultura espanhola é das mais ricas da Europa. A mescla originada pelo longo domínio romano e pelos séculos de possessão árabe-mulçumano deixou um legado incrivelmente rico, especialmente no sul do país, na região da Andaluzia. Mas o norte do país, constituído pela Galícia e país Basco mais a oeste e pela Catalunha mais a leste, também não pode ser desprezado.

A Galícia é uma região muito curiosa da Espanha, possui um dialeto, o galego, que está mais próximo do português do que do espanhol. E as semelhanças não param na língua, uma vez que faz fronteira com Portugal e sofre forte influência dos nossos colonizadores. A capital Santiago de Compostela é internacionalmente conhecida pelo caminho feito pelo apóstolo Santiago há centenas de anos atrás que culminava na cidade. Hoje o caminho continua sendo repetido por milhares de peregrinos ao longo de todo o ano. Saem em geral de cidades no norte da Espanha ou sul da França e caminham por cerca de 35 dias por uma região muito bonita. Durante os dias que estive em Santiago pude ver muitos peregrinos chegando. Alguns pareciam estar com muitas bolhas nos pés, observando-se a lentidão e dificuldade com que andavam. Vários deles trajavam roupas típicas da época, não dispensando o cajado. Cheguei a ver até casais numa provável lua-de-mel alternativa, já que possuíam em suas bicicletas a inscrição just marrie (recém-casados). A cidade é bastante religiosa e possui uma bela igreja no centro. Quando estava indo visitar um antigo mosteiro, um chileno me abordou. Disse que era ateu e que gostava de lanchar naquela região. Disse também que o diabo estava presente ali, visto que alguns anos atrás um avião havia caído bem em cima do mosteiro. Não constatei a veracidade daquilo, mas se alguém dissesse que na verdade o diabo estava logo ali na minha frente, não duvidaria, dada a raiva expelida pelo olhar de meu interlocutor, mesmo sabendo que estava em uma das cidades mais religiosas da Espanha - área inóspita para o exercício da tentação. Este acontecimento só vinha me confirmar o misticismo em que está envolta a cidade.

Deixei a a Galícia e segui para Bilbao, capital do País Basco. Essa outra região da Espanha é ainda mais intrigante. O dialeto falado ali não tem sua origem no latim, é totalmente diferente do espanhol. Parece mais russo. Dizem que é uma das línguas mais antigas do mundo. O número enorme de consoantes em seqüência nas palavras espalhadas pelas placas, cardápios, anúncios, tornava a leitura quase impossível. O país Basco é a sede oficial do ETA, grupo terrorista que “quer” que a região adquira autonomia de país. “Quer” está entre aspas porque, na verdade, se isso chegasse a acontecer, o grupo acabaria e, muitos dizem, essa não é a intenção, já que muitas pessoas vivem disso e ficariam desempregadas. Um outro fato curioso é que a maioria da população já não quer mais a independência, o que torna ainda mais incoerentes as ideologias do grupo. Em Bilbao visitei o nada convencional museu Gugenheim que me despertou sensações que outros museus não despertaram, talvez por ser mais contemporâneo e ter uma proposta diferente. A cidade me pareceu bastante moderna, mas as inumeráveis estátuas de touro, pintadas das mais diferentes formas, espalhadas pela cidade, propiciam um ar bastante pitoresco.

P.S. 1
Vejam como é nossa cabeça. Logo que vi meus dois companheiros de quarto no albergue de Bilbao já achei-os parecidos com árabes. Tanto se falam dessas conexões entre terroristas...

P.S. 2
Guerras Paralelas
No mesmo dia que acontecia o atentado em Nova York lia-se em um site na Internet que 35.000 crianças morriam desnutridas. E ainda acham que combatendo os sintomas resolverão o problema...

P.S. 3
Fala-se aqui que seja quem for o autor do atentado, teria lucrado com especulações na bolsa, vendendo ações antes da queda das torres e comprando-as depois a um preço muito mais barato...

Nenhum comentário:

Postar um comentário