quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

[6] San Sebastian de ponta a ponta - Espanha


Ainda que demos a volta ao mundo procurando a beleza, temos que também carregá-la dentro de nós mesmos ou não a encontraremos
Ralph Waldo Emerson


De Bilbao segui para San Sebastian, também na região do País Basco. Essa cidade na costa norte da Espanha foi uma das mais belas que visitei até agora. Com águas limpíssimas e com montanhas que proporcionam belas vistas, pequena e com construções históricas marcantes, é refúgio de verão dos reis espanhóis. Possui também um largo calçadão e belas praias, atraindo muita gente no verão, especialmente as francesas que, aproveitando a proximidade da região com a França elegeram o local para livremente praticar o topless.

O albergue se localizava em uma das extremidades de San Sebastian, assim, pela manhã, aproveitando a pequena dimensão da cidade, caminhava em direção à outra ponta e retornava ao anoitecer.

No início do trajeto ia percebendo o começo da movimentação. Os donos de alguns quiosques já estendiam seus guarda-sóis na esperança de atrair clientes, algumas pessoas iniciavam sua corrida matinal, crianças já brincavam na areia. Depois de caminhar um pouco, involuntariamente me vi diante de uma bifurcação Escolhi um caminho que me afastou da praia mas que me levou ao Palácio Miramar. O rei espanhol que mandou construir aquele Palácio na junção das praias da Concha e Ondareta não devia ser nada bobo. A vista era deslumbrante, assim como os jardins que cercam o Palácio. Prossegui e passei pela outra praia até atingir o porto e o centro antigo, chamado Parte Vieja. Casas típicas recheavam a porção continental ,e barcos dos mais diferentes tipos ocupavam o mar. Um pouco mais adiante encontrava-se a base do Monte Urgull com um imenso aquário e um museu naval. Ali do lado era onde os golfinhos davam o ar de sua graça. Às vezes, caprichosamente, exigiam minutos de observação atenta ao mar para serem localizados, mas em outras ocasiões pulavam sucessivamente (como se quisessem armazenar uma reserva de ar), embelezando ainda mais aquela paisagem de férias. Prossegui. Agora, o bater das ondas no paredão recém-construído produzia um som interessante e se não ficasse atento podia tomar um banho a contra-gosto. O mar parecia protestar contra aquela obstrução não natural e atingia com tal força o concreto que a água jorrava metros acima, vindo a cair onde pessoas andavam. Não muito longe, uma ilha já podia ser melhor observada. Finalizado o paredão uma nova praia surgia. Esta mais agitada, a preferida dos adoradores de surfe e bodyboard, dezenas deles podiam ser vistos espalhados dentro ou fora do mar. Fim do trajeto, a única opção agora era voltar. E voltei. Passei pelos mesmos cenários novamente sem me cansar de tanta beleza tão concentrada. Mas não tinha compromisso com o relógio, vez ou outra parava, contemplava, fotografava, assistia, ria, ou comia ( pois saco vazio não para em pé). O sol já estava bem baixo no horizonte. De volta ao ponto inicial, percebia algo diferente, não menos surpreendente que tudo que àquela altura o dia já tinha me oferecido. Ali também havia um paredão; um paredão que acompanhava a acentuada curvatura do local. Com a maré atingindo seu máximo, os praticantes de bodyboarding e as crianças que haviam acabado de deixar a escola aproveitavam aquela conjunção para se divertirem, cada um a seu modo. Os primeiros deitavam nas suas pranchas e aguardavam as ondas semiconduzidas, paralelas ao paredão. Quando as pegavam no tempo certo a impressão que se tinha era a de que se esborrachariam nas pedras justapostas com cimento que formavam a grande parede. Chegavam realmente muito perto, mas as ondas acompanhavam perfeitamente a curvatura, virando quase 180 graus e os atirando de volta ao mar. Mas o perigo maior ainda não era esse. Como as ondas só tinham esse comportamento próximo ao paredão, todos se concentravam numa estreita faixa de 5 metros de largura por uns 50 metros de comprimento congestionando totalmente o local. Não era incomum que gritassem para que os da frente tomassem cuidado quando obtinham sucesso na escalada da onda. Eu, em cima do paredão, ao lado de inúmeros outros curiosos, apenas observava com inveja a divertida brincadeira. Também do meu lado, mas um pouco mais abaixo, estavam as outras crianças que citei. Todas se posicionavam bem próximas ao paredão em um ponto onde o choque da onda invariavelmente provocava uma pequena chuva artificial. Quando percebiam a onda se aproximar tentavam avaliar a quantidade de água que seria jogada para fora. Assim, se a água fosse pouca, permaneciam ali; mas se achassem que seria muita, aprontavam uma gritaria e corriam no último milésimo de segundo. Não é preciso dizer que, por várias vezes, ou não corriam rápido o suficiente, ou avaliavam mal a quantidade de água espirrada. No final não havia uma sequer com os uniformes de escola secos e todos já brincavam descalços, tendo deixado seus tênis molhados ao lado das mochilas que estavam em local protegido. Alguns dos pirralhos até exibiam pequenos cortes decorrentes dos constantes tombos, mas anestesiados pela adrenalina não davam indicação de dor. Somente a definitiva retirada do sol pôs fim à algazarra dentro e fora do mar, era hora de ir embora.. Eles e eu deveríamos repor energias para o dia seguinte.


P.S.
Afinal quais são os limites entre o 1o mundo e o 3o mundo ? Vejam a carta enviada por um leitor para o El Pais, maior diário espanhol:

Spain is different

Como se reconoce a un español en el extranjero ? Fácil, es el unico que fuma en um recinto donde esta prohibido fumar e quando se lo recuerdas te insulta alegando sus derechos y liberdades. Mientras el resto de los viajeros del aeropuerto internacional de ** contemplan desolados la escena, algunos extranjeros acuden en mi consuelo. Como les explico que en Espana se fuma en el metro y hasta en los ascensores ? Y esto es norma, o no ? Hasta cuando ? Vendra el cambio con el euro ?
Ernesto Palacios, Madri
** = Sao Paulo !!

Nenhum comentário:

Postar um comentário