quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

[17] Arbeit Macht Frei? - Polônia


O mundo é um livro, e aqueles que não viajam
lêem apenas uma página. Saint Augustine


Arbeit Macht Frei. O trabalho liberta. Com essa frase irônica, disposta sobre o portão de entrada, os prisioneiros eram recepcionados em Auschwitz. O campo de concentração onde ocorreu o maior genocídio humano (nunca tanta gente foi assassinada em um espaço tão curto de tempo - 1,5 milhão) fica a 70 km de Cracóvia e são na verdade dois. O segundo campo é denominado Auschwitz II ou Birkenau e foi construído algum tempo depois do primeiro, a 3 km do mesmo. A palavra Auschwitz é uma variação alemã para a palavra em polonês Oswiecim que é o nome da cidade aos arredores do campo.

Auschwitz é sempre relacionado aos judeus devido ao grande número de pessoas mortas, cerca de 90% dos 1,5 milhão, mas o número de poloneses católicos mortos se assemelha ao de poloneses judeus mortos, em torno de 70.000. Parece um tanto quanto insensível falar de "cerca de", "em torno de" quando se trata de humanos mortos, mas os números não são concretos porque a maioria das pessoas já chegava morta ao campo, sem nenhum registro, o que dificulta as estimativas. Além de poloneses, judeus de todo o mundo foram mortos neste local, assim como prisioneiros de guerra soviéticos e ciganos.

Existe também um terceiro campo de concentração - Monowitz ou Auschiwitz III - mas este é mais distante e de menor porte. Os dois primeiros foram transformados em enormes museus mórbidos: enquanto no primeiro se concentra mais a parte documental, o segundo pode não ser recomendado aos mais sensíveis. Restos de quatro crematórios e câmaras de gás, a sombria plataforma ferroviária, em perfeito estado de conservação, por onde o trem chegava e era feita a seleção de deportados, barracas de concreto e madeira onde viviam os reclusos até a morte; portas de entrada, cercas elétricas e torres de vigilância podem ser visitadas.

As pessoas não eram mortas somente nas câmaras de gás. Também morriam de fome e esgotamento já que trabalhavam excessivamente e se alimentavam mal (café da manhã: 1/2 litro de café, almoço: 1 litro de sopa sem carne com legumes podres, janta: pão negro com 20 a 30 gramas de salsicha, margarina ou queijo); ficavam doentes devido às péssimas condições sanitárias (conviviam com ratos e insetos); pelo progressivo enfraquecimento unido a pouca roupa diante do inverno rigoroso (e nunca as trocavam ou lavavam); por experimentos científicos; castigados; e, ainda, fuzilados ou enforcados. Quando chegavam ao campo eram comunicados pelo chefe que "haviam chegado ao campo de concentração com uma única saída, a chaminé do crematório". Muitas vezes a distância que separava os deportados de outros países até Auschwitz podia superar os 2400 km. Percorriam todo esse caminho em vagões de carga, espremidos uns aos outros e sem alimentação, uma viagem que durava de 7 a 10 dias. Por isso, quando abriam os vagões, muitos já estavam mortos - na sua maioria velhos e crianças - e os demais exaustos. Os 25-30% mais fortes eram selecionados para o trabalho e os outros conduzidos diretamente às câmaras de gás, iludidos com a história de que iriam "tomar um banho". O último "banho", porque dos chuveiros não saía água, mas gás. Cerca de 2000 pessoas eram mortas de uma vez com 5 a 7 kg de gás Zyklon B em no máximo 20 minutos. Dos cadáveres eram então retirados os dentes de ouro, jóias e objetos valiosos, os cabelos eram cortados e então eram conduzidos aos crematórios ou fossos de incineração.

Quando o fim da guerra se fazia iminente, os SS nazi, como eram chamados os servidores do nazismo, retiraram os objetos mais valiosos dos armazéns onde eram mantidos objetos dos presos, e tocaram fogo. Desmoronaram os crematórios e câmaras de gás assim como muitas barracas tentando remover as evidências das atrocidades cometidas, mas como se pode ver no museu, muito foi preservado.

Isso tudo parece a sinopse de um roteiro de um filme macabro, cujo cenário visitei, mas não é. O roteirista, Hitler, suportado por expectadores que o apoiavam, fez disso realidade. Hoje a opressão é mais disfarçada, o inimigo não pode ser personalizado e nem o oprimido generalizado como pertencente a uma religião, grupo étnico ou região onde habita, mas o número continua alarmante e o apoio representativo. Que em um futuro próximo isso tudo também seja lembrado, (quiçá) por nossos filhos e netos, como coisa do passado, objetos de museu.

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