quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

[18] Papa ao alcance de um toque - Itália

A viagem é o retorno. Tao saying

Minha estadia em Roma foi totalmente atípica. Possuo uma tia, Luza, que dedica sua vida a atividades religiosas/altruístas e que, coincidentemente, estava na Itália fazendo um curso. Logo que cheguei à Roma liguei para o Brasil para confirmar se ela estava na capital da Itália e pegar seu telefone. Para minha sorte ela estava, liguei para ela que prontamente me convidou para permanecer aqueles dias no hotel que as freiras mantêm.

Me hospedei então de domingo a sexta-feira em um quarto com banheiro e além disso tomava o café-da-manhã e ainda almoçava e jantava em uma mesa compartilhada com mais 10 freiras. Tudo de graça. A maioria delas era da Espanha e se comunicavam na língua falada nesse país – o que contribuiu para que eu praticasse o espanhol – mas também havia uma do Congo que falava francês e duas outras que também falavam italiano. Uma delas estava vivendo há 30 anos em Roma e me deu ótimas dicas do que visitar, assim como contava todos os detalhes relacionados a cada ponto turístico, tantos que minha memória era incapaz de reter.

Os cinco dias que permaneci em Roma foram insuficientes para conhecer toda a cidade, mas ainda assim pude visitar as quatro principais basílicas, dentre elas a de São Pedro, a maior do mundo, situada no Vaticano. Vi também os restos do Foro Romano e Termas de Caracala, curiosas ruínas da Roma Antiga; o admirável Panteão; as interessantes praças. Fui também a uma das catacumbas subterrâneas, a de Calisto, que possui galerias de diferentes profundidades. (nteressante como tudo não desmorona). Dizem que Roma subterrânea é um enorme cemitério. Outros locais que gostei foram a Fontana de Trevi, mundialmente conhecida, e celebrizada no filme de Felini “A Doce Vida”; o inigualável Coliseu, onde Nero se deleitava diante do derramamento de sangue de feras e gladiadores; sem falar no rico Museu do Vaticano, com pinturas de Rafael e Michelangelo.

Michelangelo foi uma figura muito singular, dizem que tinha aparência monstruosa e que era muito melancólico. Considerava-se um escultor. Entre suas obras destacam-se Davi, Pietá e Moisés. Entretanto, depois de relutar muito, acaba aceitando, a mando do papa corrente, pintar a Capela Sistina. Leva anos para terminar aquela que seria considerada uma das mais importantes obras com relevância artística, religiosa e histórica. É genial como ele interpreta ,através da pintura, parte da Bíblia, ainda que fosse um trabalho que inicialmente rejeitasse. O trabalho foi herdado como obra obra-prima pela humanidade, mas tragicamente quase deixou seu autor cego, tanta era a quantidade de substâncias químicas que caiam em seu olho quando estava pintando o teto.

No meu terceiro dia em Roma parti rumo ao Vaticano disposto a tirar uma foto do papa. Me disseram que toda quarta-feira ele aparecia em uma janela de um dos prédios próximos à Catedral de São Pedro, no Vaticano, e que vez ou outra ele descia até à praça. Quando cheguei ao Vaticano percebi uma movimentação incomum. Um grande número de pessoas com um papel amarelo na mão (um convite), eram inspecionados antes de ter acesso a uma entrada que levaria a uma área reservada. Percebi que havia um grupo que não possuía tal convite e que, assim, se conseguissem entrar eu também poderia conseguir. Aproximei-me do grupo e avançamos juntos lentamente. Passamos pelo detector de metais e quando os guardas suíços pediram pelo convite, aquele que parecia ser o líder do grupo, um americano, começou a explicar algo que não pude escutar devido a distância. O guarda reprovou com a cabeça mas deixou-os entrar, digo, deixou-nos... Caminhamos um pouco e então entramos em um enorme salão onde já havia no mínimo umas mil pessoas. Logo começaram a explicar em dez línguas diferentes o que fariam, ao mesmo tempo em que muitas pessoas dirigiam seu olhar para o centro do salão na parte de trás. Entre a multidão um corredor isolado se estendia desde o fundo do salão até uma parte mais elevada na frente. Quando acabaram de explicar o que fariam houve uma movimentação em direção ao corredor central. Não hesitei em fazer o mesmo e, já que estava na parte de trás, onde não havia tanta gente, avancei facilmente e quando começaram a subir nas cadeiras me postei de pé em uma, o mais próximo possível. Entre eu e o corredor já não havia mais ninguém. Preparei minha câmera fotográfica e fiquei, como todos, esperando ansioso. Será que o papa surgiria ali, bem diante de meus olhos a um metro de distância ? Sim, surgiria. Cinco minutos depois, lá aparecia ele em uma versão simplificada de papa-móvel, com alguns guardas ao seu redor. Os flashes das câmeras eram incessantes, assim como o da minha quando ele passou exatamente à minha frente. Foi muito emocionante. Vez ou outra ele parava e beijava crianças e, depois de percorrer todo o corredor, após terminar de subir com muita dificuldade alguns degraus de uma escada com a ajuda de um corrimão móvel, foi muito aplaudido. Está muito velho e quando começou a falar se tornou evidente que não lhe restam muitos mais anos de vida. Finalizada sua primeira fala, com minha missão muita bem cumprida, deixei o salão ainda afetado pela energia emanada por aquele simpático senhor de valentia exemplar.

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