quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

[19] Veneza e imaginação - Itália


A imaginação pode levá-lo a qualquer lugar
O Mágico de Oz


Depois de mais de três meses viajando, ainda que tivesse conhecido lugares espetaculares, vivido situações inesquecíveis, encontrado pessoas interessantes, tinha chegado a conclusão que nada, nada mesmo pode superar a imaginação. Assim, pensava que podia-se ir à América do Norte, à Europa ou à África, à Ásia ou à Oceania, aos Pólos, à Marte ou a Lua e ainda assim não ter a imaginação superada, ou seja, alimentar expectativas e depois não vê-las correspondidas. Mas, da mesma forma, pensava que o oposto também poderia acontecer. Não se alimentar de muitas esperanças em relação a um determinado lugar e depois simplesmente achá-lo maravilhoso.

Veneza se aproximou bastante da segunda opção. Tanto que, se não fossem essas armadilhas psicológicas, levando-se também em consideração que vinha de uma Florença chuvosa que não me agradou tanto, me arriscaria a dizer que Veneza foi a mais diferente, mágica, fascinante e bonita cidade que visitei.

Encontrei naquela região italiana uma cidade completamente única, uma cidade que não poderia ser comparada nem mesmo com Amsterdã e seus inúmeros canais, uma cidade totalmente não convencional. Vejamos. Se não se levar em consideração que há algumas poucas estreitas ruas destinadas aos pedestres, todas as demais são “feitas” de água. Água ! Isso significa dizer que não há carros em Veneza, assim como não há metrô, trem, ônibus ou motos. Isso também significa dizer que o trnsporte, de pessoas ou materiais, é feito através das ruas de água, os canais. Ou seja, há metrôs-barco, ambulâncias-barco, viaturas-barco, coletores-de-lixo-barco, táxis-barco, caminhões-de-entrega-barco ! E sem esses barcos, também chamados de Vaporetos, alguns lugares seriam simplesmente inacessíveis, já que Veneza é um conjunto de ilhas mar adentro com pouquíssimas pontes interligando-as. O cotidiano de seus cidadãos é completamente afetado por isso. Invariavelmente dependem dos metrôs-barcos para se locomover (a posse de carros-barco não é comum, embora tenha visto algumas garagens para eles) e quando existem ruas pelas quais poderiam caminhar têm que contar com a ajuda da maré. Várias vezes vi ruas invadidas pela água, especialmente entre 9 e 11 da manhã.

Em uma de minhas voltas passei por um local onde havia um pouco de água na rua mas que ainda era possível caminhar sem se molhar. No entanto, quando na impossibilidade de prosseguir por outros caminhos, retornei para esse mesmo ponto a rua estava inundada e notei que estava ilhado. Foi no mínimo divertido assistir, por um instante, como as pessoas, turistas e moradores, se adaptavam àquilo. Assim, vi moradores prevenidos caminharem com longas botas de borracha através da água, vi turistas improvisando sacolas de plástico em cada uma das pernas, outros pulando dentro de sacos de lixo como se estivessem numa daquelas famosas corridas típicas de gincanas, outros ainda tornavam o momento romântico e carregavam suas mulheres apaixonadas no colo. Depois de muitos minutos, com minha paciência esgotada, preferi adotar um método mais convencional, sacar tênis e meias e adentrar naquela água congelante. Faz parte da magia de Veneza.

De dia ou de noite, com o tempo claro ou nebuloso, passear pelos canais despertava sensações deliciosas. Os cursos d’água, as pontes, as casas típicas, as gôndolas, o som de uma ou outra sanfona, o idioma italiano, os turistas fascinados, os casais apaixonados, enfim, tudo contribuía para transformar Veneza em um cenário perfeito e inspirador, campo fértil para a imaginação...

Nenhum comentário:

Postar um comentário