quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

[13] Berlim: a reunificação não acabou - Alemanha


Guarde somente aquilo que possa levar consigo; conheça os idiomas, conheça os países, conheça as pessoas. Deixe que sua memória seja sua bolsa de viajem.
Alexander Solzhenitsyn


Falar de Alemanha é falar de história, afinal o país foi o pivô das duas guerras mundiais do século passado e as marcas e conseqüências disso não podem ser apagadas em pouco tempo, se é que um dia serão. Após a 2a guerra mundial, Berlim foi dividida em quatro. Três partes ficaram com os aliados, França, Inglaterra e EUA e a última com os soviéticos. Devido à fuga de pessoas para o ocidente, em 1961 o muro de Berlim foi construído pela Alemanha Oriental socialista, com o pretexto de que seria "uma barreira contra o imperialismo do ocidente". Kennedy, então presidente dos EUA, respondeu: "melhor um muro que uma guerra". O coração de Berlim foi então literalmente partido e dois novos centros naturalmente surgiram, um do lado capitalista, mais a oeste, onde hoje é o Europacenter, e um outro do lado socialista mais a leste, onde hoje é o Mitte. Com a queda do muro em 1989 seguida da reunificação em 1990 a zona morta próximo ao antigo muro voltou a ter relevância e hoje um novo centro está sendo criado com a construção de prédios com arquitetura bastante moderna como o do Parlamento Federal e o Sonny Shopping Center e com a remodelação-criação de praças. Ou seja, Berlim em um futuro próximo terá um terceiro centro.

Meu plano inicial era dedicar o primeiro dia em Berlim para obter os vistos para Polônia e República Tcheca (quero ir a Cracóvia e Praga) mas meus planos foram frustrados por informações erradas sobre as embaixadas que obtive no centro de informações berlinense. Decidi então mudar tudo novamente: vou para a Áustria (Viena) e lá tentarei os vistos. Acabou sendo uma solução excelente já que acabei percebendo que estarei ainda mais próximo de Cracóvia a partir de Viena. Como ganhei o dia livre subitamente, tratei de começar meu sigthseeing (passeios turísticos). Felizmente as supostas embaixadas eram no antigo coração de Berlim o que tornou bastante fácil o início da exploração da cidade. Como estava sem guia comecei a andar ao acaso. Antes pensava que em questão de minutos teria uma transformação completa do oeste para o leste, mas isso não é bem verdade. A diferença é sim gritante, mas não acontece em minutos. Isso porque do lado ocidental há um enorme parque, que não é o mais bonito da Europa, mas é o maior, que impedia a sensação instantânea que esperava. Mas ao passar pelo último portão que restou do muro que dividia a cidade, o portão de Brandemburgo, que está em reformas, a atmosfera começou a mudar. A arquitetura dos prédios é de tirar o fôlego e é uma atração atrás da outra. A Ópera, a Universidade onde estudou Einstein e Marx, catedrais, museus cujos prédios deveriam ser eles próprios objetos de museus, praças, a prefeitura... E naquele momento não sabia o que era o quê, só ia tirando fotos. Evidentemente teria que voltar àquele lugar, o que fiz logo no dia seguinte. E então subi numa torre de 365 metros de onde era possível ver todos aqueles prédios e onde se encontravam também fotos numeradas, seguidas da lista do nome de cada lugar. Como minha dor havia finalmente desaparecido andei pela cidade toda. Também conheci bairros não tão turísticos. Uma rua com uma sinagoga dos judeus, reformada devido aos bombardeios que sofreu; um centro comercial também judeu em ruínas que virou um espaço cult para artistas e....o muro ! Me surpreendi com a extensão que ainda está de pé, cerca de 500 metros, todo grafitado. Pelos desenhos dá para se ter uma idéia da comoção que ele causou, principalmente porque a "galeria a céu aberto" está do lado leste, do lado oeste só há mato. Tudo que citei até agora está na parte oriental de Berlim que vim a constatar que é a parte realmente interessante da cidade. No lado oeste, além de centros comerciais, zoológico, lojas de grife, digno de visita mesmo só uma igreja parcialmente danificada por bombardeios, que diga-se de passagem, é impressionante. É um dos símbolos de Berlim.

Da Alemanha resta falar da cerveja. É de longe o país que mais consome cerveja por habitante. É muito comum saírem do trabalho e tomar uma cervejinha. Carro também é sinônimo de Alemanha: Volkswagen (volks=povo, wagen=carro), Audi... Passei por um salão onde vi carros que nem sonho em ter. Vi também, nas ruas, um fusquinha azul muito legal com teto com uma espécie de veludo preto. Numa de minhas caminhadas vi uma aglomeração de pessoas e me aproximei para ver o que era. Um grupo de afro-americanos estava prestes a iniciar um show de jazz. Como tocavam e cantavam ! Excelente. Em seguida entrou um político em cena. Começou um discurso em um tom bastante inflamado e obviamente eu não entendia nada, mas como havia algumas pessoas protestando com cartazes anti-nazistas provavelmente deveria ser de ultra-direita. Imaginei Hitler a minha frente e, na dúvida, soltei o balão verde de gás que haviam colocado na minha mão e fiquei observando ele se distanciar em direção ao céu.

P.S.
Com o comentário de um amigo e a pesquisa em um guia descobri que existe uma cidade em Portugal, Évora (pela qual passei, mas não parei) com uma capela revestida internamente com ossos humanos e com a seguinte inscrição: "Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos" !

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